Pequim acusa Tóquio de ressuscitar "militarismo japonês" com declarações sobre Taiwan
Um jornal oficial do Partido Comunista Chinês alertou hoje para o "perigoso ressurgimento do militarismo japonês", após declarações da primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, sobre uma eventual intervenção de Tóquio num conflito no estreito de Taiwan.
As afirmações da chefe do Governo japonês constituem um "indício de ressurreição" das ambições militares nipónicas e "não são simples desvarios políticos isolados", apontou o jornal Diário do Povo, principal órgão de imprensa do Partido Comunista Chinês, num comentário publicado sob o pseudónimo Zhong Sheng, habitualmente utilizado para veicular a posição oficial de Pequim em matérias de política externa.
Segundo o texto, as palavras de Takaichi "escondem intenções sumamente perversas" e revelam a "obsessão e arrogância das forças direitistas japonesas por romper as restrições da Constituição pacifista e buscar o estatuto de grande potência militar".
O jornal acusou ainda Tóquio de "acelerar desenfreadamente o seu caminho para o rearmamento" nos últimos anos e de tentar usar uma "eventual contingência em Taiwan" como pretexto para justificar a sua expansão militar.
"Ao longo da história, o militarismo japonês utilizou repetidamente supostas `crises existenciais` como desculpa para lançar invasões. Pretende o Japão repetir os erros do passado ao resgatar hoje esse tipo de retórica?", questionou o Diário do Povo.
Se o Japão intervier militarmente no estreito de Taiwan, "a China considerará tal ação como uma agressão" e responderá com "um golpe direto", advertiu o artigo, apelando para que Tóquio "corrija imediatamente a sua conduta provocadora" e "retraia as declarações prejudiciais", sob pena de "assumir todas as consequências".
O comentário surge um dia depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Sun Weidong, ter convocado o embaixador japonês em Pequim, Kenji Kanasugi, para apresentar um protesto formal pelas recentes declarações de Takaichi.
A primeira-ministra nipónica afirmou esta semana no Parlamento que uma eventual crise em Taiwan poderá colocar o Japão numa "situação de crise", legitimando a intervenção das Forças de Autodefesa com base no princípio da autodefesa coletiva.
Taiwan é uma ilha com Governo próprio desde 1949, que a China considera uma "província rebelde" e parte inalienável do seu território, tendo ameaçado várias vezes recorrer à força para alcançar a reunificação.
Apesar de ter reconhecido a República Popular da China como o único Governo legítimo em 1972, o Japão mantém relações não oficiais com Taipé, e o antigo primeiro-ministro Shinzo Abe (1954-2022) defendeu publicamente que qualquer invasão da ilha justificaria uma resposta militar japonesa, no quadro do acordo de segurança com os Estados Unidos.
A tensão bilateral agravou-se ainda mais esta semana depois de o cônsul chinês em Osaca, Xue Jian, ter publicado, e posteriormente eliminado, uma mensagem nas redes sociais em que apelava a "cortar a cabeça" de Takaichi. O episódio levou o Governo japonês a apresentar uma queixa diplomática formal junto das autoridades chinesas.